Vamos chamar os naturistas aos brios

Está na hora de acordar os brasileiros para a verdadeira prática do naturismo. Na definição do Aurélio, naturismo é a “concepção daqueles que tudo esperam das forças da natureza” ou “valorização excessiva dos agentes físicos”.

A Wikipédia define o naturismo como um conjunto de princípios éticos e comportamentais que preconizam um modo de vida baseado no retorno à natureza como a melhor maneira de viver, defendendo a vida ao ar livre, o consumo de alimentos naturais e a prática do nudismo, entre outras atitudes.

Mas tudo isso é teoria. Na prática, a coisa é outra!

Podemos dizer que o naturismo, ou nudismo, como se prefira, é a filosofia que se baseia num modo de vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática do nu em grupo, tendo por intenção favorecer o auto-respeito, o respeito pelo outro e o cuidado com o meio ambiente. A prática surgiu na Alemanha e lá, como em outros lugares da Europa, não impõe restrições de qualquer natureza a seus praticantes. No Brasil, essa filosofia, que chegou às terras tupiniquins no final da segunda guerra mundial e se notabilizou pela prática do nudismo, abriga, atualmente, outros conceitos, quais sejam:

Ø Pratica do nudismo em grupo, mas só se esse grupo for formado por casais heterossexuais (casados ou não) e/ ou famílias.

Ø Favorecer o auto-respeito, mas um auto-respeito entre pessoas escolhidas, pois as que não o forem são automaticamente taxadas de pervertidas ou voyeurs, entre elas automaticamente incluídos os “solteiros” (isto é, homens desacompanhados de mulheres).

Ø Respeito pelo outro e cuidado com o meio ambiente, mas, na verdade, não há respeito pelo outro nem cuidado com o meio ambiente. Os “outros” são discriminados, mal vistos e expulsos do grupo por serem solteiros, negros, jovens ou gays. Cuidado com o meio ambiente? Bem, se comer carne vermelha, fazer necessidades fisiológicas nas praias e parques ou jogar lixo no chão forem tipos de cuidado com a natureza, eu e muitos outros precisaremos reavaliar nossos conceitos.

O ponto crucial é o seguinte: o naturismo é uma comunhão entre seres vivos, e não apenas humanos. Há pessoas que abraçam essa filosofia de corpo e alma nus.

O naturismo não é necessariamente uma pratica de casais nem de famílias apenas. Foram pessoas, não casais, nem famílias, nem solteiros que iniciaram essa praticam no mundo. Pessoas que buscavam harmonia com a natureza, auto-respeito, respeito pelo outro e pelo meio ambiente e que por isso – apenas por isso – não se constrangiam com a nudez em grupo. Na verdade, praticavam a nudez de que a natureza cobre as espécies biológicas, inclusive a humana.

A distorção surge porque, culturalmente, as pessoas de nossa matriz civilizacional associam nudez com sexo, e sexo com pornografia. Nossa cultura imagina que a exposição dos órgãos que participam do processo de reprodução humana – a genitália, no homem e na mulher, e os seios, órgãos de amamentação, na mulher – são vergonhosos. Prova disso é a denominação eufêmica de “partes pudendas” ou a explicita e escandalosa descrição do primeiro cronista da história do Brasil, Pero Vaz de Caminha, narrando ao rei de Portugal que as índias, sem qualquer constrangimento, não ocultavam “suas vergonhas”.

Essa deformação cultural contamina os adversos ao naturismo, que o consideram simples “pouca vergonha”, e os que se dizem naturistas mas atribuem interesses sexuais (e, portanto, pornográficos) ao homem que esteja em um ponto de nudismo e não se faça acompanhar por sua própria mulher, sabe-se lá adquirida, como: no altar, no cartório ou no meio da rua.

Os defensores da “naturalidade” desse raciocínio ou se apóiam na sabedoria popular declaradora de que “o bom julgador julga por si” ou replicam sem pensar os superados padrões culturais que vêem, na mulher, sobretudo um objeto de desejo que o homem descontroladamente cobiça. Assim só casais devem compartilhar um local de nudez, para evitar que um homem tenha a mulher de sua propriedade cobiçada por outro homem. Evidência desta atitude moralmente depreciativa para o comportamento humano é a aceitação, para esses grupos mal orientados, de mulheres desacompanhadas (e, portanto, “públicas”) mas não de homens desacompanhados – os “predadores” em potencial.

Infelizmente, esta é a explicação mais generosa para essa atitude. Menos generosa e, em alguns casos, mais realista é o reconhecimento de que grupos de chamados naturistas efetivamente aderem à atitude deformada que acima se lastimou. Essas pessoas não são naturistas. São pessoas interessadas em sexo, em trocas de casais e práticas similares. Nada contra o sexo, desde que entre adultos conscientes e com mútuo consentimento, mas, por favor, deixem o naturismo fora disso!

Texto: Jhonas Araújo

 
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